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Militares negam golpe no Zimbábue e dizem que presidente está bem

Post by: 15 November, 2017
oldados são vistos em tanque na capital Harare, no Zimbábue, na madrugada de quarta-feira (15) oldados são vistos em tanque na capital Harare, no Zimbábue, na madrugada de quarta-feira (15)

Militares do Zimbábue negaram nesta quarta-feira (15) um golpe de Estado, mas informaram o andamento de uma operação contra "criminosos" próximos ao presidente Robert Mugabe, que está "são e salvo".

Em mensagem à Nação em rede nacional de TV, após tiroteios na capital, Harare, os oficiais garantiram que "não se trata de uma tomada do governo por militares".

"Queremos assegurar à Nação que sua excelência, o presidente (...) e seus familiares estão sãos e salvos, com sua segurança garantida", declarou um general. "O alvo são criminosos em seu entorno (de Mugabe) que estão cometendo crimes. Após cumprirmos nossa missão esperamos que a situação volte à normalidade".

A declaração ocorre após um forte tiroteio durante a madrugada, na zona da residência de Mugabe em Harare, segundo testemunhas.

"Pouco antes das duas da manhã escutamos entre 30 e 40 disparos, durante três a quatro minutos, procedentes de sua residência", contou um morador do bairro de Borrowdale.

Na segunda-feira (13), o comandante do Exército, Constantino Chiwenga, ordenou o fim do expurgo no partido ZANU-PF, no poder, após a destituição do vice-presidente, Emmerson Mnangangwa, e advertiu para uma intervenção dos militares.

"Devemos lembrar-lhes a quem está por trás destes acertos desleais que quando se trata de proteger nossa revolução, os militares não hesitarão em intervir", alertou o general.

Um porta-voz do ZANU-PF reagiu às declarações do general Chiwenga afirmando que estão "claramente calculadas para perturbar a paz nacional (...) e sugerem uma conduta traidora por sua parte com a intenção de incitar à insurreição".

Mnangagwa foi destituído uma semana depois de ter discutido com Grace, esposa de Mugabe e primeira na linha de sucessão do marido, de 93 anos.

O ex-vice-presidente tem fortes vínculos com o Exército, após ter ocupado o cargo de ministro da Defesa.

Mugabe, que dirige o Zimbábue com mão de ferro desde a independência do país, em 1980, já anunciou que concorrerá em 2018 a um novo mandato.

Antes da troca de tiros desta quarta-feira, o Foreign Office britânico relatou "movimentos de veículos militares nas imediações de Harare".

Decano

Mugabe é o decano dos chefes de Estado em atividade. Sob o seu regime autoritário, o país africano empobreceu muito e desde o início dos anos 2000 lida com um desemprego em massa - cerca de 90% da população ativa - e uma falta de liquidez que atrasa o pagamento dos salários dos funcionários.

Tensão

Diante da complicada situação criada no país africano, embaixadas como as do Reino Unido e Estados Unidos recomendaram aos seus cidadãos que permaneçam em suas casas.

A escalada de tensão no Zimbábue teve início na tarde de terça (14), quando vários tanques foram vistos em direção a Harare, apenas no dia seguinte a advertência feita pelo chefe das Forças Armadas, Constantine Chiwenga, que "medidas corretivas" seriam tomadas se continuassem a saída de veteranos no partido do presidente Robert Mugabe, de 93 anos e no poder desde 1987.

Na semana passada, o antigo vice-presidente do país, Emmerson Mnangagwa, veterano de guerra que aparecia como sucessor do presidente, foi destituído do cargo. Mnangagwa fugiu para a África do Sul e em comunicado disse que "em breve controlaria as molas do poder e do país".

A presença de tropas, incluindo a movimentação de ao menos seis veículos blindados a partir de um quartel a noroeste de Harare, despertou rumores de golpe contra Mugabe, embora não haja evidência que sugira que o líder do Zimbábue pelos últimos 37 anos tenha sido derrubado.

Entenda o caso

Mnangagwa, aliado próximo de Mugabe desde a guerra da independência na década de 1970, criticou duramente o presidente e a primeira-dama, Grace Mugabe, em um encontro com militantes na última quinta-feira (9), no qual denunciou que ambos "privatizaram e comercializaram a nossa amada instituição".

Mnangagwa deixou o país e afirmou que sua "saída repentina" se deve a "incessantes ameaças" contra ele e sua família, que estão agora na África do Sul. O ex-vice-presidente, que se postulou como um dos possíveis candidatos a suceder o veterano Mugabe, anunciou que está disposto a voltar para dirigir o partido do presidente, a União Nacional Africana do Zimbabue-Frente Patriótico (ZANU-PF).

O ex-vice-presidente tem fortes vínculos com o Exército, após ter ocupado o cargo de ministro da Defesa.

Na segunda, o comandante do Exército disse que o expurgo de apoiadores do vice deve acabar. "O expurgo atual que claramente visa a membros do partido (...) deve parar imediatamente", declarou o general Chiwenga em coletiva de imprensa, à qual assistiram 90 militares de alta patente nos escritórios do exército na capital. "Devemos lembrar-lhes a quem está por trás destes acertos desleais que quando se trata de proteger nossa revolução, os militares não hesitarão em intervir", alertou.

Depois, o partido do governo acusou o comandante do Exército de “conduta traidora” em um comunicado emitido na noite de terça (horário local). Segundo o governo, os comentários feitos por Chiwenga na véspera foram “claramente calculados para perturbar a paz e estabilidade nacionais” e tiveram como propósito “incitar a insurreição” no país.

Eleições 2018

Mugabe, de 93 anos, que governa este país do sul da África desde 1980, anunciou que se candidatará às eleições de 2018, embora alguns altos cargos do seu partido queiram substituí-lo no poder, algo que provocou enfrentamentos no seio da legenda. Ele foi o único líder do Zimbábue desde que o país se tornou independente do Reino Unido.

Analistas apontam a primeira-dama como uma das principais candidatas a suceder o presidente ou como sua vice em um novo mandato.

A própria Grace Mugabe afirmou em um encontro com eleitores do seu partido que "Mnangagwa odeia Mugabe desde que o país conseguiu a independência" e disse que se "encarregaria pessoalmente" de que fossem iniciados "procedimentos disciplinares" contra o vice-presidente.

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