Para a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), a proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício económico de 2026, que deveria ser a bússola das finanças públicas, arrisca-se a ser mais um exercício de ficção.
De acordo com a declaração política da UNITA, na abertura da reunião plenária de discussão do OGE 2026, que estima receitas e fixa despesas de 33,2 biliões de kwanzas (cerca de 31 mil milhões de euros), a proposta orçamental "é uma reafirmação do costume, incapaz de atingir o âmago dos problemas dos angolanos".
"Questionamos veementemente a sua credibilidade. Estamos perante um documento que parece ignorar por completo a realidade económica do país e a própria história da execução orçamental dos últimos anos", afirmou o deputado da UNITA Olívio Nkilumbu.
Segundo a UNITA, os números do OGE 2026 "desafiam a lógica económica mais elementar e as suas previsões de crescimento são vazias e irrealistas, com projeções de crescimento económico que continuam descoladas da realidade, ignorando a excessiva dependência do petróleo e a falta de diversificação efetiva".
"A previsão de receitas, sobretudo petrolíferas, ignora a volatilidade dos mercados internacionais e a contínua fuga de divisas", disse o deputado.
No entender a UNITA, a despesa pública está "inflacionada e opaca", referindo que se alocam recursos para "megaprojetos de duvidosa utilidade pública, enquanto setores fundamentais como a saúde e a educação continuam no abandono".
O OGE "parece mais um instrumento para alimentar a máquina do partido-Estado do que para servir o povo", criticou a UNITA, considerando que a proposta não foi precedida de um debate nacional alargado.
Segundo o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, que procedeu à apresentação da mensagem do Presidente angolano sobre o OGE 2026, as previsões macroeconómicas foram elaboradas com base num preço médio do barril de petróleo de 61 dólares, a produção de 1,5 milhão de barris de petróleo por dia e uma taxa de inflação no fecho do ano de 13,7%.
O governante angolano disse também que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real será de 4,17%, "impulsionado, mais uma vez, pelo setor não petrolífero que deverá crescer a uma taxa de 4,73%".
"Trata-se de um Orçamento elaborado com realismo e profundamente exigente, um Orçamento em que, pela primeira vez, no nosso sistema de programação financeira pública, a receita não petrolífera será superior à receita petrolífera", notou.
Quanto aos 50 anos de independência de Angola, em 11 de novembro, a UNITA considerou que neste período o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), ofereceu ao povo angolano "uma mão cheia de nada".
"De um país promissor a um Estado falhado bem-sucedido como disse um autor: de uma nação rica em recursos minerais estratégicos e altamente estratégicos, fomos transformados num dos países mais desiguais do mundo", afirmou o deputado, acrescentando que a riqueza de Angola foi concentrada "nas mãos de uma oligarquia voraz", enquanto a maioria sobrevive na pobreza extrema.
"O legado de 50 anos do regime é o de um país mais pobre, mais dividido e mais dependente, apesar dos biliões de dólares gerado pelo petróleo e diamantes", referiu a UNITA, acrescentando que Angola vive um caos político, económico, social e tecnológico "sem precedentes em tempo de paz" e uma "gestão escandalosa dos recursos públicos".
A UNITA criticou ainda os gastos que do Estado no jogo de futebol entre Angola e Argentina, na sexta-feira em Luanda no âmbito das celebrações, estimando uma despesa de 40 milhões de dólares, enquanto "milhares de crianças estudam debaixo de árvores e nos hospitais".