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Comunidade angolana ganha serviços consulares em Bragança onde se sente “bem acolhida”

Post by: 02 Outubro, 2025
Comunidade angolana ganha serviços consulares em Bragança onde se sente “bem acolhida”

A comunidade angolana dispõe desde hoje de serviços consulares de proximidade em Bragança, uma cidade onde se sente bem acolhida apesar das diferenças que encontraram à chegada, testemunharam à Lusa vários elementos daquela comunidade.

A distância dos principais centros de Portugal, que os naturais de Bragança também sentem, está agora atenuada com a inauguração, hoje, do Consulado Honorário de Angola em Bragança.

Tratar de documentação, como passaporte ou Bilhete de Identidade, deixa de implicar uma viagem ao Porto, a mais de 200 quilómetros, e passa a ser possível neste novo espaço a funcionar nas instalações da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB).

Ao certo não é conhecido o número de angolanos a viver em Bragança, um levantamento que irá ser feito, indicou à Lusa o cônsul honorário, António Cunha, responsável pelo Consulado Honorário que abriu hoje em Bragança e também pelos de Vila Real e Guarda, que já estão a funcionar, e pelo que abrirá em breve em Viseu.

Os estudantes são o maior número, mais de 200, dos angolanos a viverem em Bragança e quem tem acompanhado de perto o crescendo da comunidade do país africano lusófono nesta cidade do interior de Portugal. Wilson Correia chegou há dez anos a Bragança, com 20 anos, para estudar no Instituto Politécnico (IPB), formou-se em Engenharia Ambiental e ficou.

Como contou à Lusa, “no início, não foi fácil”, teve trabalhos ocasionais enquanto estudava, depois começou a trabalhar numa empresa de logística” até encontrar trabalho na área de formação, em Vimioso.

Quando chegou a Bragança, eram “cerca de 20 angolanos” a estudar no politécnico e nos dias de hoje são “uma comunidade muito forte e grande”. Wilson foi presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Bragança que continua a receber e a apoiar os estudantes que vão chegando.

Garante que não teve “grandes dificuldades” de adaptação, pese embora o frio transmontano extremo do calor tropical angolano, porque “a cidade sempre esteve preparada para isso, as casas são equipadas com tudo”. A cidade acolheu-o bem, disse, e “apoio institucional sempre existiu”, quer das instituições locais, quer a nível académico.

O Consulado Honorário é encarado como “muito importante”, pois “a maior parte dos angolanos residentes em Bragança são estudantes e para tratar alguma documentação é necessário quase perder um dia, tem que se deslocar ao Porto ou a Lisboa”.

“Abrindo cá, diminui o esforço de uma forma exponencial, a nível de apoio, de conhecimento, o facto de ter alguém aqui disponível para lhe dar um abraço, para conversar, para orientar”, apontou.

Salomão Ferreira chegou há quatro anos para estudar e é agora o presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Bragança, no politécnico conhecido pelo intercâmbio cultural com mais de 70 nacionalidades entre os alunos, sendo a comunidade cabo-verdiana a maior entre os estudantes estrangeiros do IPB.

“O mérito é também da cidade de Bragança que nos recebeu muito bem, falo dos professores, do presidente do Politécnico e outras instituições”, afirmou. Para quem chega e não conhece ninguém, a associação disponibiliza apoio e o presidente aconselha quem precisa a “expor a aflição no momento”.

Salomão diz-se integrado em Bragança, realçando “a abertura que encontra e a rede de contactos que tem a associação”, desde o politécnico à Câmara Municipal ou autoridades policiais. “Sou angolano em Bragança, muito amado e muito bem acolhido, também", vincou.

O Consulado Honorário de Angola em Bragança vai colmatar as situações que afligem a comunidade “de forma mais rápida, eficiente e eficaz”, disse. Além de encurtar distância com os serviços, o novo espaço será também para Ivana Delfina Machado Jorge um motivo para aproximar mais a comunidade a residir em Bragança, que vai passar a “ter um ponto de encontro”.

Para esta angolana, Bragança distingue-se de outras zonas de Portugal por ser uma cidade pequena onde todos se conhecem, o que torna mais fácil encontrar os restantes conterrâneos. Outra vantagem que aponta é que, exatamente por ser pequena, viver em Bragança permite “resolver muitas coisas num único dia”, o que não é possível a quem vive em Lisboa ou no Porto.

Ivana decidiu mudar-se de Angola para Bragança, de onde é natural o marido, vai fazer cinco anos, para trabalhar e “dar uma melhor educação” aos filhos que, garante, “adaptaram-se perfeitamente”.

“A minha principal força veio deles porque todos os dias chegavam: mamã fui eleito delegado de turma, aconteceu tal coisa boa na escola e aquilo foi-me fortalecendo para gostar mais de Bragança”, contou. Ivana ainda sentiu algum “sufoco” com a mudança, a falta da família, dos amigos e da casa cheia típica da cultura africana e diferente do que encontrou em Portugal.

Aos poucos acostumou-se e concluiu que o frio de Bragança “não é assim tão mau”.

“Há o calor das pessoas e vamo-nos habituando”, acrescentou, Sente-se integrada, tem trabalho como auxiliar de supermercado e tenta “estar presente para quem chega e também dar conforto para quem já está há mais tempo”.

Aprofundar a relação entre portugueses e angolanos é também o propósito do novo espaço, realçou o cônsul honorário, António Cunha, que se propõe ainda ser elo para investidores entre os dois países, estimular a rede de contactos empresariais e dinamizar trocas comerciais.

O espaço servirá também de local de difusão da cultura angolana. Presente na inauguração, a embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus dos Reis Ferreira, lembrou as palavras recentes do Presidente angolano, João Lourenço, sobre as dificuldades na integração, resultado da legislação.

“Os portugueses em Angola não encontram a mesma dificuldade”, declarou, apelando “à reciprocidade” e para que “sejam criados mecanismos para facilitar a integração dos cidadãos angolanos em Portugal”.

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Last modified on Quinta, 02 Outubro 2025 16:03
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