A refinaria de Cabinda, um investimento privado com 90% de capital da Gemcorp e 10% da Sonangol, petrolífera estatal angolana, foi hoje inaugurada pelo Presidente de Angola, João Lourenço.
Em declarações à Lusa, o economista Daniel Sapateiro destacou o facto de esta ser a primeira refinaria que Angola constrói desde a independência do país, em 1975, e considerou que a sua entrada em funcionamento vai transformar o panorama energético angolano, contribuindo para uma maior autossuficiência, criação de emprego, sustentabilidade e menor importação de produtos refinados a partir do estrangeiro.
Segundo o economista, com a refinaria de Cabinda, o Governo consegue amealhar divisas antes gastas para a importação de produtos refinados derivados de petróleo. Para o economista, a inauguração desta refinaria, construída na província mais a norte do país, com um investimento de 550 milhões de dólares, ultrapassando o inicialmente orçamentado de 473 milhões de dólares, “é um sinal de que virão outras refinarias, nomeadamente do Soyo, mas também a de Lobito”.
“Com estas refinarias, de facto, vai-se conjugar um conjunto de fatores entre a produção e a refinação de produtos de petróleo para satisfação das necessidades dos angolanos e diminuir as importações e, com isto, também gerar – aquilo que eu penso que é tão importante quanto a própria refinação – os empregos criados, cerca de 3.300 empregos diretos, muitos deles pessoal que vive na província de Cabinda”, referiu. De acordo com Daniel Sapateiro, com a inauguração desta refinaria, a província de Cabinda passa a gerar mais rendimentos, o que impacta no consumo na própria região, mas todo o país sai a ganhar.
Também o economista angolano Flávio Inocêncio considerou positiva a inauguração desta refinaria, por ser a primeira em Cabinda, apesar da pequena refinaria já existente feita pela Chevron para as suas operações. “Mas fora disso não existia nada. Isso pode ajudar a suprir as necessidades locais e até exportar e acima de tudo foi um projeto privado, inicialmente”, referiu.
Flávio Inocêncio acrescentou que Cabinda tem uma importância fundamental para Angola e “há lá poucos investimentos petrolíferos”, frisando que esta refinaria resolve parcialmente esse problema.
“Não estou de acordo com quem vê neste projeto algo negativo”, afirmou, sugerindo que, idealmente, este empreendimento se expanda para um projeto petroquímico, permitindo aumentar os produtos exportados e solidificando a economia local.
O especialista em matérias de energia, petróleo e gás observou que esta refinaria ajuda a diminuir as importações, sendo que, inicialmente, vão ser produzidos 30 mil barris por dia, evoluindo para 60 mil na segunda fase, cobrindo entre 5% e 10% as necessidades de importações anuais. Inaugurada a refinaria de Cabinda, Flávio Inocêncio considerou importante que se concluam também as refinarias do Soyo (Zaire), e do Lobito (Benguela).
Segundo o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, a construção da refinaria de Cabinda enfrentou várias dificuldades, entre as quais a pandemia da covid-19, levando a atrasos. Diamantino Azevedo disse que, até ao final do ano, Angola vai contar com os primeiros derivados comerciais produzidos nesta unidade.
O governante angolano realçou que o contrato entre as partes prevê que a Sonangol forneça o crude, que continua a ser sua propriedade, enquanto a refinaria processa e devolve os produtos refinados à petrolífera estatal, cobrando apenas uma taxa de processamento, de modo que a Gemcorp presta apenas um serviço de refinação.