O indicador do rácio do crédito vencido, equivalente a 398 mil milhões de kwanzas (2.000 milhões de euros, à taxa de câmbio atual), consta da 12.ª edição da publicação Banca em Análise, apresentada hoje em Luanda, no qual a consultora internacional Deloitte analisa os resultados dos relatórios e contas apresentados publicamente por mais de duas dezenas de bancos que operam em Angola.
O crédito líquido a clientes aumentou 12% face a 2015, chegando, no conjunto dos bancos analisados, aos 3,062 biliões de kwanzas (15,6 mil milhões de euros), valor que segundo a Deloitte já incorpora o efeito da valorização dos créditos concedidos em moeda estrangeira ao câmbio oficial.
Além disso, o estudo - que não levou em conta os dados do Banco Económico, que resultou da resolução do Banco Espírito Santo Angola (BESA) - demonstra que o reconhecimento de perdas para o crédito dos bancos aumentou cerca de 0,4%.
Apesar de rácio do crédito vencido na banca angolana continuar nos 13% (sobre o crédito total concedido) tal como a análise feita em 2015, o valor absoluto cresceu em 2016, tendo em conta o aumento do total de crédito concedido. Em 2015, a banca angolana, segundo a 11.ª edição do estudo da Deloitte, tinha 355,6 mil milhões de kwanzas (1,8 mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual) em crédito vencido.
"Há países com índices mais elevados, mas este número fala por si. É de facto um pouco elevado", admitiu José Barata, líder do setor financeiro da Deloitte em Angola, em declarações à agência Lusa.
O desafio, apontou, passa por uma gestão da banca angolana que "tem de ser feita de forma integrada", com uma "preocupação contínua" na qualidade da carteira de crédito.
Em 2016, o volume de ativos agregado das instituições financeiras angolanas incluídas na análise da Deloitte fixou-se nos 8,702 biliões de kwanzas (44,3 mil milhões de euros), mantendo-se o estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC), em processo de saneamento face ao elevado volume de crédito malparado, na liderança, com um ativo total de 1,691 biliões de kwanzas (8,6 mil milhões de euros).
Juntamente com o BPC, o Banco Angolano de Investimentos (BAI), o Banco Fomento Angola (BFA), o Banco Internacional de Crédito (BIC) e o Banco Millennium Atlântico formam o grupo das cinco principais instituições financeiras angolanas, representando 73% do total do ativo dos bancos analisados pela Deloitte, que no conjunto cresceu 23% face ao ano anterior.
Num cenário de crise económica e financeira que se mantém, devido à quebra nas receitas petrolíferas desde finais de 2014, Duarte Galhardas, presidente da Deloitte em Angola, aponta que o setor bancário angolano voltou a demonstrar, no último ano, "um elevado grau de resiliência".
"Conseguiu alcançar um desempenho positivo, sendo de destacar o reforço dos fundos próprios dos bancos, que registaram um aumento de cerca de 26% face a 2015", salientou.
A apresentação deste estudo contou com a presença do economista português e antigo ministro das Finanças de Portugal Jorge Braga de Macedo.
De acordo com a 12.ª edição do estudo Banca em Análise, o peso dos depósitos em moeda nacional manteve a sua tendência de crescimento em 2016, em detrimento da moeda estrangeira, passando a representar 67% dos depósitos totais, que somaram 7,043 biliões de kwanzas (35,8 mil milhões de euros), um crescimento de 16% face a 2015.