“Mamadus” substituem bancos comerciais com TPA no Chipindo

Post by: 05 June, 2021

Os cidadãos de nacionalidades libanesas e eritreia estão a substituir os bancos comerciais na transação de moeda nacional, com uso dos Terminais de Pagamento Automático (TPA) no município do Chipindo, a 450 quilómetros da cidade do Lubango, capital da província da Huíla

OChipindo não dispõe de qualquer agência bancária para satisfazer as necessidades dos habitantes desta municipalidade que, nos últimos tempos, tem sido destaque na imprensa pelas mortes de jovens em minas artesanais de ouro.

Os funcionários dos sectores público e privado destacados nesta localidade dizem estar a passar por várias dificuldades para levantar os seus ordenados. A única alternativa é deslocarem-se à província do Huambo, que dista a 152 quilómetros da sede municipal do Chipindo ou ao município de Caconda, província da Huíla.

O alto preço do táxi para a província do Huambo, bem como a falta de ponte sobre o rio Cunene que liga Chipindo e Caconda, faz com que os funcionários ou aqueles que pretendem efectuar qualquer movimento bancário procurem as cantinas dos comerciantes oeste-africanos, vulgos“Mamadus”, para levantar dinheiro. No local, os clientes fazem um depósito como se estivessem a pagar por algum produto e recebem o dinheiro em cash.

Rodrigues Diamantino Fernandes, funcionário de uma empresa privada, explicou que, em cada transação realizada num dos Terminal de Pagamento Au

tomáticos (TPA) dos Mamadus, o interessado tem de deixar um por cento do valor solicitado.

“Estamos a sofrer aqui por falta de banco, porque não é fácil encontrar transporte para o Huambo ou para Caconda. Somos obrigados pelas circunstâncias, por exemplo, a pagar 1.000 Akz para levantar 10.000. Para nós, que já ganhamos pouco, é prejudicial”, disse.

Apesar de haver quem reclame desta prática, há quem agradeça a iniciativa destes cidadãos estrangeiros, já que os valores cobrados em cada transação feita não superam os valores gastos com a deslocação à província do Huambo ou ao município de Caconda.

A corrida do táxi do município de Chipindo para Caconda, numa distância de 105 quilómetros, custa entre 7.000 a 10.000 Kwanzas. Por esta razão, muitos habitantes do município do Chipindo preferem solicitar os serviços dos “Mamadus”.

“Se para ir ao banco de Caconda tenho de gastar entre 14.000 a 20.000 Kwanzas, em duas viagens para levantar 50.000 Kwanzas é preferível pagar aqui 5.000. Economiza-se tempo e esforços, por isso prefiro vir aqui”, disse António Mateus.

Ainda assim, António Mateus recomenda às autoridades competentes a trabalharem no sentido de construir e instalar na municipalidade algum serviço bancário para minimizar as dificuldades da população que precisa destes serviços.

Já os operadores de uma das máquinas que trabalham na manutenção das estradas terciárias do Chipindo, Abel Canduco, disse que a falta de banco tem criado vários constrangimentos, sobretudo para aqueles que têm as famílias fora da municipalidade.

“O Governo perde muito com estes negócios”

Os bancos comerciais são as únicas entidades autorizadas por lei a realizar a actividade de intermediação financeira, como depósitos e a cedência de créditos aos seus clientes.

Entretanto, se esta actividade é realizada por qualquer pessoa, singular ou colectiva, é ilícita e causa desvantagens quer para o Governo como para a população. O economista Jeremias Yessunga entende que esta prática dos cidadãos estrangeiros chega a ser mais prejudicial para o Governo.

Segundo disse, há toda uma necessidade de o Governo traçar mecanismos de fiscalização de toda a actividade económica que se desenvolve no município para o bem da economia local e das famílias.

“Seria muito útil se o sistema fiscal estivesse a funcionar aqui no nosso município, porque o dinheiro será controlado pela administração local, através de uma repartição fiscal, que não existe no nosso município”, disse. Salienta que isso acontece “porque as actividades dos nossos irmãos libaneses não são regulamentadas pelo Banco Nacional de Angola”. “O Governo perde porque estes operadores económicos não pagam nenhum imposto”, contou.

Já o economista Paciência Cocô disse que estão perante uma actividade de intermediação financeira não regularizada, onde os visados nesta prática vêem nela uma oportunidade de obterem dinheiro de forma fácil e rápida mediante um esquema ponzi.

Explicou que a intermediação financeira é regulada e supervisionada pela Comissão de Mercado de Capitais (CMC) e pelo Banco Nacional de Angola (BNA), tendo em atenção que, de acordo com lei das instituições financeiras, a prática de captar depósitos, conceder créditos é da exclusividade das instituições financeira bancárias.

“Não havendo nenhuma instituição financeira naquela localidade, se está perante uma distorção do mercado onde os agentes económicos (famílias) tendem a buscar alternativas para fazer as suas necessidades de financiamento”, detalhou.

Por seu lado, o administrador municipal do Chipindo, Hélder Lourenço, disse que esta realidade poderá ser ultrapassada nos próximos dias, já que se encontra em fase de conclusão as obras de construção da primeira unidade bancária do município.

“Se para ir ao banco de Caconda, tenho de gastar entre 14.000 a 20.000 Kwanzas, em duas viagens para levantar 50.000 Kwanzas, é preferível pagar aqui 5.000. Economiza-se tempo e esforços, por isso prefiro vir aqui”

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