O presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa revelou, durante a Conferência dos Oceanos, que considera a posição angolana sobre a guerra na Ucrânia “diferente” e “mais distante” da de Portugal e da Europa e comentou as declarações de João Lourenço, que esta segunda-feira instou a comunidade internacional a procurar um cessar-fogo incondicional na guerra entre Moscovo e Kiev.
Para Marcelo, o presidente angolano, no seu discurso, “tornou claro que entende que é possível haver um fim mais rápido” para a guerra “do que aquela perspetiva considerada por nós mais realista”. Marcelo referia-se à defesa da tese por Lourenço de que “o mundo não suporta” um conflito “no coração da Europa” e que por isso devia haver um "cessar-fogo incondicional". Portugal, por sua vez, assumiu Marcelo, “tem posições solidárias com os nossos aliados e solidárias com o apoio à Ucrânia”.
Já a posição angolana, diz o presidente português, “tem uma visão não só não europeia, mais distante, como tem a posição de que a Europa, a um prazo relativamente curto, deve ter um papel a desempenhar, para ele entendido como o mais fácil do que aquilo que é a posição dos europeus”.
“As perspetivas são diferentes”, constatou também, garantindo que isso também é visível em outros países com quem Portugal mantém cooperações bilaterais através da CPLP. “Como é sabido, a CPLP é uma unidade que se faz na pluralidade, há posições diversas e ouvi os pontos de vista do presidente angolano”, explicou, sublinhando que os temas da defesa dos oceanos e da futura presidência são tomense da comunidade também estiveram na ordem do dia durante a sua conversa.
O que não foi discutido foi o estado de saúde de José Eduardo dos Santos, que está internado nos Cuidados Intensivos de uma unidade hospitalar em Barcelona, a cidade espanhola onde tem morado nos últimos tempos. Marcelo garantiu que “não iria tocar numa matéria tão sensível”.
Marcelo abordou também a sua visita ao Brasil, onde, na próxima semana, vai ter encontros com Lula da Silva, Michel Temer e Bolsonaro, por esta ordem. Questionado sobre o simbolismo destes encontros num período que antecede as presidenciais de outubro, Marcelo rejeita que venha a ter qualquer influência e aponta apenas à sua intenção de os “ouvir sobre o que se passa”. “São protagonistas do passado, do presente e que podem vir a ter um papel importante no futuro e têm perspetivas sobre os oceanos e sobre a guerra na Ucrânia”.
Recorde-se que Lula da Silva acusou, em entrevista à revista TIME, o presidente ucraniano de “querer a guerra”. "Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais”. Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro tem assumido uma “posição de cautela” sobre o conflito, ainda que esta segunda-feira tenha ouvido Putin, pelo telefone, a garantir-lhe que o Brasil não teria problemas com o fornecimento russo de fertilizantes. CNN Portugal