Segundo um comunicado da PGR, o general Higino Carneiro está indiciado pelos crimes de peculato, "utilização de fundos públicos para fins particulares", no processo 46/19, quando era governador do Cuando Cubango.
O militar do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que anunciou em julho a intenção de ser candidato à liderança do partido no poder em Angola desde 1975, está também indiciado no processo 48/20 pelo crime de burla qualificada, "por ter rececionado de uma empresa privada mais de 60 viaturas, no período em que era governador da provincia de Luanda, e as ter distribuído a várias pessoas, sem, no entanto, fazer o pagamento".
Higino Carneiro, que no domingo congratulou Adalberto Costa Júnior pela reeleição como presidente da UNITA, principal partido da oposição angolana, é uma figura histórica do MPLA, tendo integrado as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), onde se tornou um influente oficial durante as décadas de guerra civil.
Além de empresário, exerceu várias funções de relevo no aparelho estatal e partidário durante a presidência de José Eduardo dos Santos, tendo sido ministro das Obras Públicas entre 1999 e 2002, na fase final do conflito armado.
Higino Carneiro fol governador do Cuando Cubango entre 2002 e 2012, sendo nesse ano nomeado governador da provincia do Cuanza Sul e, anos mais tarde, transferido para Luanda, que governou entre 2016 e 2017.
Foi também deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA, mantendo-se como um militante de peso dentro do partido, embora ligado à ala eduardista e apontado como critico do atual Presidente, João Lourenço, que desafiou ao posicionar-se como pré-candidato à liderança do partido.
A sua carreira politica tem sido também marcada por processos na justiça relacionados com atos de alegada má gestão pública, sem nunca ter sido condenado.
Em 2017, uma empresa norte-americana avançou, em Washington, com um processo por burla contra seis cidadãos angolanos, incluindo os generais Higino Carneiro e João Maria de Sousa, então procurador-geral da República, sem que tenham sido divulgados publicamente detalhes sobre o curso e desfecho na justiça norte-americana.
Entre 2019 e 2021, o general esteve novamente na mira da justiça angolana por alegada gestão danosa de bens públicos (processo 24/18), tendo-lhe sido aplicada como medida de coação a interdição de sair do país.
Em 2022, o Tribunal Supremo emitiu um despacho de despronúncia e arquivamento do processo movido contra Higino Carneiro, que era acusado de crimes de peculato, nepotismo, tráfico de influências, associação criminosa e branqueamento de capitais, alegadamente cometidos entre 2016 e 2017.
O processo foi arquivado e as contas bancárias desbloqueadas, o que motivou uma denúncia criminal contra o então presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, por parte do ativista e diretor do site Maka Angola, Rafael Marques de Morais.