«Não nos podemos esquecer que os principais adversários de João Lourenço estão no próprio MPLA»
Olívio Kilumbo dá nota positiva ao balanço do primeiro mês de governação de João Lourenço. Considera desafiantes muitas das promessas feitas pelo actual Chefe de Estado. Diz que o MPLA já não tem margem para “erros grosseiros”.
“Há quatro momentos que devem ser analisados quando o assunto é o balanço do primeiro mês de governação de João Lourenço: tomada de posse, Estado da Nação, recepção a Isaías Samakuva e a reunião do Comité Central do MPLA. Os três primeiros momentos foram de conquistar popularidade.
Com discursos muito precisos. A reunião do Comité Central demonstrou o perigo que há do sistema de presidência por bicefalia; vai criar barreiras à concretização de intentos do actual executivo. Mas JLo tem uma ‘arma’: o poder de Estado, conferido pela Constituição”, realça o politólogo. “Não há condições objectivas em Angola para se fazer mais do mesmo, por que sobre o MPLA recai uma pressão jamais vista.
O país precisa de se desenvolver, crescer e alcançar o desenvolvimento sustentável. João Lourenço e o próprio MPLA estão obrigados a estar ao nível destes desafios”, observa.
Alerta, contudo, para o grau de delicadeza que se apresentam os desafios: “São missões feitas com medidas duras do ponto de vista daquilo que é a estrutura política que se criou. José Eduardo dos Santos deixa um país em crise, com imensos problemas, como pobreza extrema e níveis elevados de corrupção.
Não se desfazem 38 anos em um mês, nem mesmo em cinco anos. Mas o importante é começar já a corrigir. E parece que é isso que João Lourenço está a fazer.
Está visível nas suas intenções”. Refere que a frontalidade com que João Lourenço aborda muitas questões que eram «proibidas» de serem ditas no elenco passado demonstra a “ruptura” que terá feito com o anterior governo.
“João Lourenço fala do combate à corrupção sem reservas. Crítica e promete combater, inclusivamente os monopólios, que, como se sabe, têm à testa pessoas próximas ao anterior Presidente.
Não nos podemos esquecer que os seus principais adversários estão no próprio MPLA”, afirma.
Diz que há dentro do MPLA “várias clivagens e os envolvidos sabem que a sua sobrevivência depende muito do que João Lourenço vai ter como posição política”, daí que prevê que JLo não venha a “mexer nos negócios ilícitos” feitos antes do seu mandato.
“Tudo aponta que vai começar do zero. Optar pela ‘caça às bruxas’ é bastante melindroso”, refere, associando as investigações na Administração Geral Tributária e a demissão do secretário para os Assuntos Económicos do PR como sinais de uma “nova era na moralização do país”.
“É visível que o modus operandi de fazer política de João Lourenço é diferente.
Parece insignificante, mas não: tem valor político o reduzido aparato que acompanha o actual Chefe de Estado; a visita, longe do arsenal de segurança, que terá feito ao cardeal Nascimento; ter alegadamente comido num KFC. Tinha prometido e cumpriu o emagrecimento do governo, reduzindo os vice-governadores provinciais em mais de uma dezena. Temos um vice-governador com… 29 anos! Nota-se uma maior preocupação dos governantes em cumprirem bem o seu papel, e isso deve entender-se como ‘efeito JLo’. Não acredito que tudo isso seja ‘show-off’”, declara o politólogo. (NJ)