Há mais portugueses a considerar que situação nas ex-colónias era melhor há 50 anos - sondagem

Post by: 03 Julho, 2025

As sondagens da Universidade Católica para a RTP demonstram que os inquiridos em Portugal, Angola e Cabo Verde consideram que o processo de descolonização permitiu a modernização política e económica dos três países.

No entanto, angolanos e cabo-verdianos entendem que os seus respetivos países ficaram numa situação melhor após as independências, enquanto os portugueses estão mais divididos e tendem até a considerar que a situação era melhor nestes países durante a administração colonial. Destaque ainda para o reconhecimento e importância atribuídos à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pelos três países.

A RTP continua a divulgar ao longo desta semana os resultados de três sondagens da Universidade Católica Portuguesa, realizadas para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril não só em território português, mas também em Angola e Cabo Verde.

Os inquiridos nos três países consideram que Portugal não perdeu relevância no mundo com a descolonização: 73% dos portugueses discordam dessa ideia, assim como 51% dos angolanos e 61% dos cabo-verdianos. Em Angola e em Cabo Verde, 23% dos inquiridos considera que a antiga potência colonizadora perdeu peso na cena internacional.

Lisboa, Luanda e Praia também estão de acordo quanto ao que a descolonização permitiu a nível de modernização política e económica no respetivo país. Para 52% dos portugueses, este passo trouxe vantagens políticas económicas para o país. Em Angola, 59% também vê esses benefícios em território nacional e, em Cabo Verde, a visão favorável é ainda mais expressiva (78%).

A principal diferença entre os três países é mesmo na forma como veem a situação das ex-colónias portuguesas em África. Para os inquiridos em Portugal, 41% considera que a situação era melhor durante a administração portuguesa. São menos os portugueses que consideram que a situação ficou melhor depois das independências (35%). 
 

Já em Angola e em Cabo Verde, a perspetiva diferente: os inquiridos angolanos (74%) consideram que o país ficou melhor, 50 anos depois. Apenas 16% diz que a situação era melhor anteriormente. 

Entre os inquiridos cabo-verdianos, há ainda maior satisfação com o período pós-independência: 84% diz que o país ficou melhor e apenas 7% considera que Cabo Verde era melhor durante a administração portuguesa. 

Sobre o período colonial em concreto, os angolanos estão divididos quanto aos efeitos sociais, económicos e políticos dessa herança. Há 47% a considerar que os efeitos são positivos, mas 46% a dizer que as consequências são negativas.

O mesmo acontece em Cabo Verde, onde esta reflexão também divide os inquiridos: a mesma percentagem (43%) atribui características positivas e negativas ao legado deixado pelo período colonial.

Há no entanto uma diferença relevante entre os dois países: Angola tende a ver de forma negativa (48%) a governação desde a independência, contra 43% que fazem uma avaliação positiva. Já em Cabo

Verde, 70% consideram que a governação foi favorável e apenas 24% apresentam a opinião contrária. 

Relação com Portugal é positiva, dizem os cabo-verdianos e angolanos

Se 50% dos portugueses inquiridos considera que as relações com Angola estão “assim-assim”, há no entanto 40% a considerar que essas mesmas relações são “boas”. Por sua vez, os angolanos veem com um prisma muito positivo a relação com Portugal (70% afirma que as relações com o país são “boas”).

Para os portugueses, a relação com Cabo Verde é boa (71%), opinião que é partilhada pela maioria dos inquiridos cabo-verdianos (81%) em relação a Portugal. 
 

No entanto, na hora de pedir aos inquiridos portugueses com que país africano de língua portuguesa é que Portugal deve ter uma relação mais chegada, a resposta maioritária é Angola (64% colocam o país em primeiro lugar).

Uma visão que obtém alguma reciprocidade por parte dos angolanos quando se questiona com que país de língua portuguesa é que Angola deve ter relações mais chegadas: 30% responde que esse país deve ser Portugal em primeiro lugar. 

Para os cabo-verdianos, a relação prioritária dentro da lusofonia deve ser Portugal (61% coloca o país em primeiro lugar). 
Esmagadora maioria da população reconhece e dá importância à CPLP

Questionados sobre se conhecem alguma iniciativa financiada por Portugal nos respetivos países, 70% dos inquiridos angolanos afirma que não conhece nenhuma, enquanto em Cabo Verde há 48% que reconhece iniciativas portuguesas, por oposição a 39% que afirma não conhecer nenhuma. 

Já quanto às empresas portuguesas, 62% dos inquiridos angolanos dizem conhecer alguma que trabalha em Portugal e m33% afirmam não conhecer nenhuma. Em Cabo Verde, uma vasta maioria da população (88%) conhece alguma empresa portuguesa a operar no país.

Outro dos dados que sobressai destas sondagens é a visão sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A esmagadora maioria da população nos três países conhece e dá importância à CPLP. 

Em Portugal, 84% já ouviu falar da CPLP, e deste universo 83% considera que é uma organização “bastante importante” ou mesmo “muito importante”. O cenário repete-se em Angola, onde 85% dos inquiridos conhece a comunidade e 81% desses atribui à mesma grande importância, e também em Cabo Verde, onde a CPLP é ainda mais reconhecida (94% dos inquiridos), dos quais 90% consideram a comunidade importante. 

E há outro ponto em que os três países surgem alinhados: 82% dos inquiridos em Portugal considera que deve ser dada prioridade à lusofonia, enquanto os inquiridos em Angola e Cabo Verde consideram que a relação com países de língua portuguesa deve ser uma prioridade estratégica das respetivas políticas externas (75% dos angolanos e 77% dos cabo-verdianos sustentam essa ideia).

 Mas se todos consideram que a lusofonia e relação com países de língua portuguesa deve ser prioridade, os inquiridos parecem não olhar apenas para a proximidade da língua portuguesa numa hipotética migração para fora do seu país. Entre os inquiridos portugueses, os destinos preferenciais apontados são “outro país da União Europeia” (51%), seguido de outros destinos como os Estados Unidos e o Canadá e só depois Brasil e Angola. 

Para os inquiridos angolanos, 30% diz dar preferência aos Estados Unidos e Canadá, 17% a outro país da UE que não Portugal e só depois surge Portugal (15%).

 Já os cabo-verdianos dão preferência a outro país da UE que não seja Portugal (35%), seguindo-se Portugal (31%) e os EUA e Canadá (24%).

Ficha Técnica – Portugal:
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 21 de maio e 13 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos portugueses, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1104 inquéritos válidos, sendo 43% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 31% da região Norte, 23% do Centro, 32% da A.M. de Lisboa, 6% do Alentejo, 5% do Algarve, 2% da Madeira e 1% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base nos dados do INE. A taxa de resposta foi de 21%*. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1104 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança de 95%.

*Foram contactadas 5175 pessoas. De entre estas, 1104 aceitaram participar na sondagem e responderam até ao fim do questionário.

Ficha Técnica - Angola:

Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 21 e 31 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos angolanos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Angola. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1199 inquéritos válidos, sendo 52% dos inquiridos mulheres. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1199 inquiridos é de 2,9%, com um nível de confiança de 95%.

Ficha Técnica – Cabo Verde:

Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, a RTP e a Universidade Católica Portuguesa entre os dias 29 de maio e 23 de junho de 2025. O universo alvo é composto pelos cidadãos cabo-verdianos, com 18 ou mais anos de idade, residentes em Cabo Verde. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente, na rua, em várias ilhas de Cabo Verde (maioritariamente Santiago e São Vicente). Todas as entrevistas foram realizadas presencialmente (cara-a-cara). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 810 inquéritos válidos, sendo 49% dos inquiridos mulheres. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e ilha com base nos dados do INE Cabo Verde. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 810 inquiridos é de 3,4%, com um nível de confiança de 95%.

Last modified on Quinta, 03 Julho 2025 17:20
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