O Zanu-PF, partido de Mugabe, acusou Constantino Chiwenga de traição após o general ameaçar intervir para acabar com um expurgo interno no partido, que culminou na destituição do próprio vice-presidente e outros altos quadros políticos. Mugabe demitiu o vice, Emerson Mnangagwa, na semana passada.
O veterano da guerra de libertação dos anos 1970 era popular entre os militares e tinha sido visto como um provável sucessor de Mugabe. O Exército vê sua remoção como parte de uma retirada em massa de figuras da era da independência para abrir caminho para Mugabe entregar o poder a sua mulher, Grace. Mugabe está no poder desde que o país ganhou independência do Reino Unido, em 1980.
Repórteres de agências internacionais relataram ter visto veículos militares blindados nas principais vias nos arredores da capital. Testemunhas ouvidas pela Reuters disseram que viram quatro veículos blindados virarem antes de chegar a Harare e dirigir-se para o complexo da Guarda Presidencial, em um subúrbio nos arredores de Harare.
"Havia cerca de quatro tanques e eles viraram aqui, você pode ver marcas na estrada", disse uma testemunha na rodovia Chinhoyi, referindo-se aos veículos blindados.
Os movimentos das tropas elevam a tensão em um continente onde, há décadas, os exércitos derrubaram regularmente os governos civis.
'DEFENDER A REVOLUÇÃO'
Nem o presidente nem a mulher responderam em público às observações do general. O chefe da ala jovem do Zanu-PF acusou o chefe do Exército de subverter a Constituição.
— Defender a revolução e nosso líder e presidente é um ideal para o qual vivemos e, se necessário, é um princípio para o qual estamos preparados para morrer — disse Kudzai Chipanga.
Grace Mugabe tem ganhado influência no partido, entrando em conflito com os veteranos de guerra da era da independência, que antes desfrutaram de um papel privilegiado no partido sob Mugabe, mas que nos últimos anos foram banidos de altos papéis do governo e do partido.
O país atualmente está lutando para pagar as importações devido a uma crise do dólar, que também está provocando inflação desenfreada apenas dez anos depois de sofrer uma implosão financeira causada quando o Banco Central começou a imprimir dinheiro.
Martin Rupiya, especialista em assuntos militares do Zimbábue na Universidade da África do Sul, em Pretória, disse que o Exército parecia estar fechando o cerco contra Mugabe.
— Há uma ruptura entre o executivo e as forças armadas".
Mas Alex Magaisa, acadêmico zimbabuano-britânico, disse que era "prematuro falar sobre um golpe".
— Um golpe militar é a 'opção nuclear'. Um golpe seria muito difícil de se vender em casa e na comunidade internacional. Eles vão querer evitar isso.