"Estamos a celebrar 50 anos de independência, mas de independência de quê? Política ou mais alguma", questiona C4 Pedro em entrevista à agência Lusa, sublinhando que a sua "preocupação hoje é a independência cultural e tradicional".
Para o artista, o meio século de soberania, que se assinala em 11 de novembro, deve ser motivo não só de comemoração, mas também de introspeção.
"Esta é a independência que eu, como angolano, venero. Eu não luto por uma bandeira, eu luto por uma terra, eu luto por um povo, por uma etnia, por uma história, mas uma história que não beneficia A, nem B, nem C, que beneficia o alfabeto todo", diz o cantor.
O músico de grandes êxitos, como 'Bo Tem Mel' (com Nelson Freitas) e 'Tu És a Mulher', acredita que a independência plena só será alcançada quando o povo angolano recuperar o orgulho das suas raízes e tradições.
"Primeiramente, o angolano saiba quem é. (...) [E que] tenha orgulho de ser ele mesmo. É que quando eu venho para Portugal e visto-me como angolano, estou a abrir o olho para que os meus irmãos percebam que é bonito sermos nós, sermos independentes", acrescenta.
C4 Pedro considera que a música e a arte têm um papel central na construção de uma consciência coletiva.
"Eu estou a chamar a atenção a toda a gente, não só aos músicos, mas a arte tem muito poder", afirma o músico, justificando que para ele a música "não é só para 'cuiar', não é só para dançar", mas também para meditar, pensar e despertar.
O cantor considera que cada criador tem responsabilidade no despertar da identidade africana e na valorização das suas histórias e tradições.
Questionado sobre o atual contexto político e social de Angola, C4 Pedro é categórico ao defender que nenhum partido conseguirá mudar o país se o povo não mudar primeiro.
"Eu não sei se algum partido político poderia salvar o meu país se a consciência do meu povo não estiver despertada. Seja qual for o partido que estiver ou que vier a estar no poder, o mais importante para mim é a consciência de um povo", destaca o intérprete.
Segundo o artista, o verdadeiro progresso nasce da autorresponsabilidade e a política "é mais bonita quando desperta o povo, não quando ela torna um povo dependente".
"A guerra civil foi a falta de consciência de um povo (...) porque é um irmão a matar um outro irmão, e alguém de fora a celebrar", reflete C4 Pedro sobre a guerra que assolou o país entre 1975 e 2002.
O cantor reconhece que as marcas da colonização são profundas.
"A colonização foi algo muito terrível, porque nós mudamos tudo, a nossa crença, esperança, os nossos nomes", diz, afirmando que a essência africana não pode ser apagada e tirada.
"Isto [a colonização], para mim, é mais terrível do que o erro de qualquer partido político no mundo. É quando tu apagas uma história de um povo", acrescenta.
"Se te tiram o poder que tens, o que sobrar é isto que vale. O que te foi dado pode ser retirado muito rapidamente. A tua essência não se tira", destaca o intérprete.
Para C4 Pedro, a sua missão é deixar uma mensagem intemporal, que ultrapasse fronteiras e governos.
"Eu não preciso estar no poder para fazer isso. Eu não preciso que votem em mim para eu fazer o que estou a fazer. Eu só preciso deixar gravado, registado, que eu passei por aqui", conclui.





