Adalberto Costa Júnior recandidata-se à liderança da UNITA no meio de uma crise interna

Post by: 09 Novembro, 2021

Destituído da presidência do partido pela decisão do Tribunal Constitucional, que em Outubro anulou o congresso de 2019, o líder formaliza a candidatura na quarta-feira. E apesar de vozes internas dissonantes, é o único candidato até agora.

Adalberto Costa Júnior formaliza esta quarta-feira a sua candidatura à liderança da UNITA no congresso marcado para 2, 3 e 4 de Dezembro. Aquele que foi o presidente do principal partido de oposição desde 2019, destituído a 7 de Outubro pelo Tribunal Constitucional que anulou o congresso que o elegeu, o político volta a candidatar-se para garantir que chega às eleições do próximo ano como o principal rosto da oposição para disputar com João Lourenço a chefia do Estado.

De acordo com um comunicado do gabinete de imprensa do partido, datado de segunda-feira, Adalberto Costa Júnior irá formalizar publicamente a sua candidatura na comissão de mandatos do XIII Congresso da UNITA às 10h (09h em Portugal continental) de quarta-feira, no complexo SOVSMO, em Viana, nos arredores de Luanda.

Numa altura em que circula todo o tipo de informações sobre divisões internas na UNITA e que os órgãos de comunicação social angolanos e estrangeiros falam na existência da vontade de Isaías Samakuva, que voltou à liderança do partido por via da anulação do congresso, de contrariar a ideia de ter Adalberto como único concorrente à presidência, até agora nenhum dirigente ou militante do partido fundado por Jonas Savimbi manifestou a intenção de se lançar na corrida contra o líder destituído.

Se em 2019, a sucessão de Samakuva fez-se numa eleição concorrida com cinco candidatos, a ideia da direcção da UNITA que caiu por causa do Tribunal Constitucional, sempre foi a de mostrar a unidade do partido face a uma justiça manipulada politicamente pelo MPLA e à sua máquina de rumores, o “gabinete de acção psicológica” que funciona, segundo acusou Adalberto Costa Júnior em entrevista ao PÚBLICO, na presidência da República de Angola.

Mas ainda esta terça-feira, a Deutsche Welle publicava um artigo, assinado por Nelson Francisco Sul, em que se falava numa “crise sem precedentes” no partido, depois de aparentemente ter sido apresentado um requerimento de anulação da reunião da comissão política de 20 de Outubro em que foi decidida a data do congresso. Diz uma fonte da comissão de ética e disciplina da UNITA à referida emissora que os subscritores do requerimento serão agora alvo de processos disciplinares por não acatarem a decisão da maioria.

“A UNITA não está em crise, isso é uma ideia que está na cabeça de algumas pessoas”, escreve o deputado Nelito Ekuikui em comunicado publicado na sua página de Facebook. No entanto, apesar de falar de que o “regime” anda “fomentando informações falsas”, o parlamentar afastado da liderança da UNITA na província de Luanda por Samakuva, reconhece indirectamente que as impugnações, as reclamações e as dissensões internas existem realmente, são é um sinal de outra coisa que não de uma crise.

“Pessoas tentando impugnar, pessoas reclamando, pessoas discutindo ideias, pessoas questionando a funcionalidade do aparelho, é efectivamente [um] grande exercício de liberdade”, afirma Ekuikui. “A democracia não é coisa do papel”, acrescenta, insistindo na ideia, também defendida por Adalberto Costa Júnior ao PÚBLICO, no comentário à defesa que Samakuva fez de mais candidaturas à liderança, de que é preciso e seria bom ter unidade e falar a uma só voz, mas isso não deverá limitar a pluralidade de ideias.

“Há quem tenha exactamente essa interpretação de que o futuro congresso devia ser o do resgate da liderança democrática que foi retirada pelo tribunal”, disse o presidente destituído do partido, mas isso “não deverá em circunstância alguma limitar vontades”, porque a UNITA vem realizando “congressos regulares, sempre com uma enorme pluralidade”.

Daí que Ekuikui insista em qualificar as discussões internas da UNITA não como um sinal de crise, “de instabilidade, fraqueza ou desorganização”, mas um sinal de que “o diálogo é permitido” e que as “pessoas livremente se expressam”.  PÚBLICO 

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